Para toda e qualquer criança, os trabalhos de casa são uma tarefa stressante. Para uma criança com a síndrome de asperger (SA) ainda mais.
O meu filho tem 9 anos, é portador de SA, frequenta o terceiro ano do ensino básico, entrou para a escola aos 7 anos, ficou retido mais um ano no pré-escolar para amadurecer o seu comportamento.
O Afonso é um menino, doce, terno, franco e muito sensível, tem alguma dificuldade em colocar as suas dúvidas e pedir ajuda, o que faz com que as traga para casa. Uma criança com esta síndrome trabalha duas vezes mais do que os seus colegas, têm que tentar decifrar frases confusas, regras da sala de aula, do recreio, situações sociais, chegando ao fim do dia exausta. A simples ideia de começar os trabalhos de casa causa-lhe alguma angústia. O cansaço mental e o stress, depois de um dia inteiro de escola, fazem com que o meu filho tenha a necessidade de descansar ou de brincar em casa, com as suas coisas, no seu sossego.
Sendo o dia tão cheio, tem que haver ainda tempo para tal atividade, precisa de auxílio, neste caso, é sempre com a mãe, sendo sua a preferência. O ambiente para fazer os tpc. é um ambiente calmo, sem barulho, nada em cima da sua mesa, a não ser o caderno e o estojo, para que não se distraia e porta fechada, é assim que quer que seja. Muitos são os trabalhos que hoje mandam para casa, praticamente todos os dias (…).
Como mãe tenho que manter-me sempre calma, para que o Afonso também se mantenha e fique concentrado no que tem que ser feito. O raciocínio visual é a sua área forte, como tal, recorro ao desenho, às figuras, às demonstrações e até ao brincar, para aumentar a sua compreensão. Utilizando estes mecanismos os trabalhos de casa são realizados com menos angústia. Chegando ao fim, é importante receber o elogio e, às vezes, uma recompensa, mostrar que conseguiu e que afinal não foi assim tão difícil. Esta é uma das muitas tarefas que uma mãe, uma família, têm que ter para que um filho tão especial tenha vontade de no dia seguinte voltar à escola. Todos os dias tentar minimizar este “monstrozinho” (tpc.) que é importante para o seu desenvolvimento cognitivo.
Nota:
A Síndrome de Asperger partilha muitas das características conhecidas do autismo, mas habitualmente num grau menos profundo. Entre as características mais comuns podemos destacar: défice de comportamento social; interesses limitados; comportamentos rotineiros; peculiaridade do discurso e da linguagem; perturbação na comunicação não verbal; descoordenação motora; sensibilidade a informação sensorial, como a luz, som, textura e gosto. A Síndrome de Asperger é um tipo de desenvolvimento que afeta a forma como o cérebro processa informação, e como tal não tem cura.
Suzel Mestre (formanda de RVCC – certificada no nível básico)