Foi no fim de semana de 21/22 de julho que li o livro do professor Luís Mendonça "Ilhéus para Sempre". E gostei.
Ele foi sendo entrecortado com outro belo romance de um outro autor português, "Avieiros" de Alves Redol, que entretanto já tinha em mãos e ambos se fundiram com um certo ambiente recheado de aventura, risos e curiosidade que ainda paira na minha cabeça, por ter terminado mesmo, mesmo antes desse, a grandiosa odisseia de "D. Quixote de La Mancha" de Miguel de Cervantes.
Dois volumes avantajados que provavelmente já tinha espreitado em tempos, mas que agora veio a produzir um efeito e sabor bem mais refinado, ao ser devorado num enlevo pela grandiosa riqueza da escrita e em pleno gozo e diversão, com tanta traulitada, dichote, "nigromância" e "rifão", filosofisse e loucura, enfim… Quixotices a "dar com um pau".
Uma obra prima que dispensa mais delongas.
Foi assim obtida uma mistura que considero muito feliz.
Entre um grande vulto da literatura mundial, um grande vulto da literatura nacional e um caso muito sério da literatura regional/romance histórico, o professor Luís Mendonça, onde me situarei, eu, que ambiciono encontrar-me entre os que fazem da escrita uma fonte de prazer, conhecimento, sabedoria e doação.
Será que sairei do estado de escritora de "trazer por casa"?
Essa coisa de absorver conhecimento e prazer preenchendo os sentidos, ao desfiar folhas que, muito naturalmente ou de coração nas mãos, alguém teve a coragem e ousadia de tornar visível e palpável, espicaça-me, e por vezes já não sei se leio ou se vasculho o interior daquele/a que, do outro lado, a tanto se atreveu, expondo-se...
Como é que se constrói uma obra de literatura? Ou melhor, como é que se estampa perante o olhar dos outros o que nos vai na alma, sabendo ser equidistante?...
Bem sei que há quem nasça para ser escritor, porque o talento o bafejou desde logo. Mas será que com um pouco de empenho, gosto e entrega, a gente encontra o nosso, até então tão esmaecido?
Quem sabe, se o "aval" que recebi da experiência de RVCC se transforma em realidade.
Voltando ao que interessa, o livro do professor “Ilhéus para Sempre”, que considero bem escrito e naturalmente bem documentado, destaco dois aspetos importantes: a ausência de escravatura na Ilha de Stª Catarina e o legado deixado pelos Ilhéus, sobre o culto do Espírito Santo, que se conserva até aos dias de hoje.
E teve o dom de me transportar para alguns cenários que tenho o privilégio de conhecer e que embora sob o olhar de turista, nem por isso deixaram de me contagiar, tanto pela beleza, no caso dos Açores, como pela ancestralidade. Um deles foi Ouro Preto em Minas Gerais, cidade museu do colonialismo e esclavagismo. Aquilo ainda arrepia a gente, mesmo sabendo que a cor da pele nos preservou dessa tortura.
Se D. Quixote me remeteu para a idade dos contos e lendas e Alves Redol para a fase em que tomo consciência de pertencer a uma classe que luta pela sobrevivência, sem abdicar da dignidade - o grande pano de fundo do seu romance, o livro do professor Luís Mendonça leva-me a revisitar lugares que guardo para sempre.
Otília Maria
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