Silvino Tavares tem 72
anos e concluiu com muito sucesso o processo de certificação de competências. O
seu envolvimento no trabalho e nas atividades que o centro desenvolveu foram
notáveis.
Destacamos
a qualidade da sua escrita e relembramos aqui um excerto do texto que escreveu
para o jornal da escola - Jornal JÁ,
com o título:
“O
futuro aos 71 anos”
“(…) E tu, companheiro,
jovem amigo da minha idade que me lês, faz um esforço e sê capaz de contrariar
essa vontade de cruzar os braços, tenta ser capaz de dizer não às tuas pernas
que teimosamente te tentam encaminhar para o tal banco do jardim, foge! Foge e
relembra o poeta José Régio que dizia no seu famoso “Cântico Negro”:
Ah,
que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
E fazes bem em não ires
por aí, meu velho e querido amigo.
Já basta de desilusão
por teres andado ao mando dos outros, não te isoles, procura os válidos e os
nobres de pensamentos, junta-te a eles e opina, aproxima-te dos mais novos e
escuta-os, aconselha-os a não cometerem os mesmos erros que cometemos levados
pela nossa ingenuidade e pureza de sentimentos, mas é bom saber seres
condescendente, também já fomos jovens como eles. Por isso vai!
Vai, e ajuda aqueles
que necessitam dos teus préstimos, não digas que não podes, há sempre alguém
que pode menos do que tu, nem digas que não tens tempo, porque estás a mentir,
agora o que tens a mais é tempo, tempo para pensares em coisas que não deves,
tens de procurar manter essa tua cabeça ocupada com coisas que desconheces,
nada é melhor do que ouvires os teus semelhantes mais jovens e não penses que
os estás a adotar, muita sorte terás tu se conseguires viver no seu seio. Não,
não venhas com a conversa que não entendes a forma como se exprimem, nem com a
frase feita “de que burro velho não aprende línguas”, é por não os entenderes
que te deves esforçar por aprenderes, é na troca de conhecimentos que nos
desenvolvemos.
Pensa comigo
companheiro, pensa que não temos idade para nos envergonharmos de não sabermos
discutir determinados assuntos, sabemos de outros que eles não sabem, nos
nossos tempos de aprendizagem os métodos foram diferentes e ainda não morremos.
Felizmente, não fomos
por ali! Não fomos por onde nos quiseram empurrar, teimosamente sobrevivemos à
nossa vontade e ao desejo de que tudo um dia seria diferente. E foi!
E há de continuar a
ser, por isso companheiro ganha coragem e vem estudar. Vem provar que as
escolas precisam de se manterem abertas para o futuro dos teus netos e dos
netos deles, vem contrariar o desejo de muitos que teimam em não querer que aprendas
mais do que sabes e te impossibilitam de poderes continuar a estudar.Vem companheiro, vem misturar os teus conhecimentos com os nossos, como se de uma mistura de tintas se tratasse e orgulhosamente as atirasses de encontro a uma parede, retratando a tua vida, em que cada cor que nela escorresse pudesse retratar a raiva com que viveste e o orgulho que sentes em ter chegado até aqui.
Vem amigo desconhecido, vem estudar, ainda estás vivo para continuares e, quem sabe, talvez um dia ainda nos encontremos num jardim qualquer em frente a uma tela a tentar e a conseguir pintar o chilrear dum passarinho.“
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