Um blogue criado com o intuito de aproximar o nosso Centro da comunidade, promovendo a divulgação das atividades desenvolvidas e de informações de caráter geral. Pretende-se, ainda, que seja um espaço de partilha e diálogo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

FATURA DO EURO 2004 - Mais um buraco para tapar até 2030

Em 1999, ouviu-se uma força no Estádio do Jamor, palco de uma demonstração de entusiasmo só suplantada talvez pela passagem do Cabo das Tormentas. O motivo de tal patriotismo, o “Euro 2004”, bastava fechar os olhos e entrava-se em êxtase, tal o arraial montado, com todos os condimentos de que o nosso consciente povo gosta, recordes para o Guinness World Records, muita música e políticos bem-falantes, como era o caso do então Ministro-Adjunto José Sócrates, que na sua elegância afirmou que aquele seria “um projeto muito interessante para o país e dinamizador da nossa economia de ponta”. Portugal viveu até 2004 uma época de subserviência ao desporto rei, onde tudo o que de mau se passava era um mal menor, pois estava para chegar o salvador da pátria. E é então que o tão esperado acontece, as trombetas soaram, os povos se aperaltaram, as ruas se enfeitaram e empresas fechavam para se assistir à passagem de El Rei Futebol.
E eis que os festejos acabaram, chegou a altura de voltarmos ao nosso verdadeiro “eu”, de memória curta como convêm, esquecendo que para tais festejos foi necessário gastar mais de mil milhões de euros de dinheiros públicos na construção das 10 catedrais do futebol, isto claro está, se não se contar com as derrapagens. Esquecendo que contrariamente ao anunciado, a Industria do Turismo sofreu uma quebra de 0,3% nesse ano, em vez do aumento prometido. Nunca se lembrando, que os projetos das imponentes obras contemplavam também muitas outras infraestruturas que nunca se ergueram. Amaldiçoados lapsos de memória que nos impedem de recordar que um dos magnânimes estádios teve um custo de 62 milhões de euros, foi usado duas vezes durante o evento e que atualmente recebe 3 mil espectadores de 15 em 15 dias, dando assim um prejuízo de 50 mil euros mensais à autarquia responsável. Doentes crónicos de amnésia, impossibilitados de saber que o “Euro 2004” ainda não terminou, podemo-nos rejubilar, pois o seu fim só está anunciado para 2030, altura em que se prevê a liquidação total das dívidas deixadas por tamanha euforia.
Sempre que nos sentirmos desfalcados ou ultrajados pelas decisões de cortes na educação ou saúde, lembremo-nos que ainda estamos a festejar o “Euro 2004” e com a vinda de El Rei D. Sebastião os nossos problemas desaparecerão na neblina.



Rui Crespo (formando do RVCC Básico)

Sem comentários:

Enviar um comentário