Para mim e os meus amigos era uma noite normal, cheia de conversas até
altas horas nas cadeiras de ferro da esplanada do velho Central, ou dentro dos
carros parados frente aos correios. Perdeu-se esse convívio, não só pelos
tempos que são outros, mas igualmente pelo falecimento de muitos que tão cedo
partiram.
Pelas oito da manhã lá estava eu no trabalho, SORENA Sociedade
Reparações de Navios, no Ginjal, secção de eletrónica naval, aí começo a ouvir
as notícias onde relatavam que estava a acontecer um golpe de estado. Fui a
bordo do navio Luís Ferreira de Carvalho buscar uns binóculos para tentar
avistar algum movimento militar em Lisboa, mas nada se conseguia ver, com
ansiedade em saber mais notícias, decidi que depois de almoço iria ao Central
tentar saber mais alguma coisa, encontrei o Miguel, o Gamito e o Zebra, e optámos
por ir para Lisboa, para o Carmo, onde assistimos às rajadas sobre o edifício
do quartel para intimidar as forças da GNR, lembro-me ainda de ver o Francisco
Sousa Tavares pai, de megafone em punho, em cima de uma guarita pedindo para as
pessoas se afastarem, e ainda da saída de Marcelo Caetano no chaimite
Bula.
Dirigimo-nos para o barco no regresso, passámos pela grande multidão
de pessoas e militares que enchiam as ruas da Capital e alegremente se
manifestavam.
Depois de jantar fui novamente ao Central, a conversa já se
centralizava no que tinha sucedido durante o dia, falávamos com grande à
vontade sem que fôssemos interpelados por algum civil ou polícia dizendo que
não queriam ajuntamentos ou o que estávamos a fazer.
João Valente
(formando certificado em processo RVCC)
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