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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Memórias de ABRIL

Almada 25 de abril de 1974, por estas horas - 3 da manhã - como era hábito, a malta de Almada ou estava na antiga Praça da Renovação, ou na catedral do rock “O 2001” aberto há poucos meses, outubro de 1973.

Para mim e os meus amigos era uma noite normal, cheia de conversas até altas horas nas cadeiras de ferro da esplanada do velho Central, ou dentro dos carros parados frente aos correios. Perdeu-se esse convívio, não só pelos tempos que são outros, mas igualmente pelo falecimento de muitos que tão cedo partiram.

Pelas oito da manhã lá estava eu no trabalho, SORENA Sociedade Reparações de Navios, no Ginjal, secção de eletrónica naval, aí começo a ouvir as notícias onde relatavam que estava a acontecer um golpe de estado. Fui a bordo do navio Luís Ferreira de Carvalho buscar uns binóculos para tentar avistar algum movimento militar em Lisboa, mas nada se conseguia ver, com ansiedade em saber mais notícias, decidi que depois de almoço iria ao Central tentar saber mais alguma coisa, encontrei o Miguel, o Gamito e o Zebra, e optámos por ir para Lisboa, para o Carmo, onde assistimos às rajadas sobre o edifício do quartel para intimidar as forças da GNR, lembro-me ainda de ver o Francisco Sousa Tavares pai, de megafone em punho, em cima de uma guarita pedindo para as pessoas se afastarem, e ainda da saída de Marcelo Caetano no chaimite Bula. 

Dirigimo-nos para o barco no regresso, passámos pela grande multidão de pessoas e militares que enchiam as ruas da Capital e alegremente se manifestavam.

Depois de jantar fui novamente ao Central, a conversa já se centralizava no que tinha sucedido durante o dia, falávamos com grande à vontade sem que fôssemos interpelados por algum civil ou polícia dizendo que não queriam ajuntamentos ou o que estávamos a fazer.

 A Liberdade passou a ser também isto - o reunir e conversar livremente.    

 João Valente
(formando certificado em processo RVCC) 

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